terça-feira, 22 de abril de 2008

Eu odeio a solidão.

Odeio sentir o vazio da minha casa.

Odeio não ter com quem partilhar minha vida.

Odeio pensar que estou "envelhecendo" sozinha.

Odeio pensar que nunca serei mãe.

Odeio ficar triste.

Acho que estou odiando muito...

...mas dizem que o ódio anda junto com o amor,vai saber?

segunda-feira, 7 de abril de 2008

Lembranças

Hoje,ao sabor do tempo,encontro-me nostálgica.

Lá fora,uma chuva fina encontra-se com a janela,compondo uma melodia lamuriosa.

Dentro de casa,em silêncio,viajo em pensamentos e lembranças que o tempo não apagou.Lembro-me dos dias de sol de minha infância,dos passeios no Aterro do Flamengo,dos fins de semana na casa de meus tios,dos almoços no Majórica ou no Timpanas(este hoje só existe mesmo em minhas lembranças).Ainda sinto o cheiro do pudim de pão que minha mãe fazia nos fins de semana em que ficávamos em casa e que recebíamos minha tia-avó,lembro-me da textura,do sabor...outros sabores ainda vem-me a memória,tais como as farofas ou a carne assada de minha mãe,sensações que felizmente permanecem vivas em minha mente.

E as tardes em que passei ao lado de minha mãe realizando artesanatos,fazendo colares de contas de papel,quadrinhos de sementes,de arroz,fazendo bonecas de feltro.Até hoje sofro a influências dos poucos anos criativos de nós duas.Lamento não passar adiante esses meus conhecimentos,mas somente o tempo poderá mudar isso.

Lembro-me do Calabouço,eu,uma flamenguista,em reduto vascaíno,nadando na piscina elevada,em uma manhã de domingo de junho,da água gelada,do céu encoberto,e da sensação de liberdade.Não lembro quanto tempo nadei.Talvés alguns minutos,talvés uma hora,mas sentia-me plena ali,nadando sem mais ninguém para incomodar(o que ali era difícil de acontecer).

Lembrei-me do dia em que literalmente eu cai de boca numa bacia de doce.Foi na Ilha,num pós dia de São Cosme e Damião.Era tanto doce e todo ele meu,delírio de qualquer criança.Aliás,na Ilha,eu sentia-me em minha segunda casa.Brincava no quintal,tomava banho de mangueira,ou de piscina armável,brincava com meus amigos imagináveis que eram os anões de jardim e fazia dos corredores entre os vasos de plantas uma mini-cidade.E quantos não foram meus carnavais passados ali,das fantasias,do cheiro de cachorro-quente na porta de casa,aliás,no carnaval não precisávamos sair de casa,ele era na porta.De noite eu brigava com o sono para assistir aos desfiles,mas sempre ele me vencia.Hoje,no lugar da casa,existe um banco.Nada mais ali lembra aqueles anos incríveis da minha infância,mas ainda hoje sonho passeando pela casa,passando pelo corredor,entrando nos quartos,nas salas,na cozinha.Em meus sonhos,sei que a casa não está mais lá,mas ainda a vejo da mesma forma que a vi pela úlima vez.

O tempo não perdoa.Deixa marcas,lembranças,com um gostinho de saudade.O tempo pode até passar,e passará,deixando não só as marcas em minha alma como em meu corpo,nos fios de cabelo branco que insistem em aparecer e que eu teimo em pintar,nas rugas que surgem em minha cara e que nenhum renew ou chronos conseguem mais tirar,nos quilos que engordei e não consegui eliminar.Mas meus anos incríveis da infância estarão tatuados em minha mente.

Essa bagagem é só minha e faz parte de minha colcha.